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terça-feira, 7 de setembro de 2010

HOMENAGEM AOS CORINTHIANOS


Confissão em homenagem ao Centenário do Corinthians
Texto de Nathan Malafaia
Recordo-me que, antes mesmo de entender o que era futebol, eu já torcia para o Corinthians: herança passada de pai para filho - como tantos por aí. Mesmo jogando bola nas ruas de terra do bairro do Golfinho, em Caraguatatuba, o menino que eu era no início dos anos noventa ainda não possuía o fascínio pelo futebol que o adulto de hoje tem. Sabia que era gostoso ir para a rua jogar com o meu irmão Artur, com vários amigos do bairro, e com o tio Edi, que tanto me paparicava - e que, em meio aos moleques, se sobressaía, não só por seus quase 20 anos, mas também por sua habilidade.
Meu tio Edi era o caçula de cinco filhos, irmão de minha mãe. Embora fosse santista, meu querido e finado avô Francisco não conseguiu fazer com que qualquer de seus filhos o seguisse na paixão clubística (diferentemente do que aconteceu com meu pai, Eduardo): a tia Rosa, mais velha, virou corinthiana; minha mãe, Rose Mary, palmeirense (mas depois decidiu dar um passo a frente e virou ponte-pretana); o tio Gil, corinthiano, como a tia Ana. E o tio Edi deveria seguir pelo mesmo caminho - mas algo o desviou. Insondável como é a escolha de um time, ele preferiu dedicar sua torcida ao São Paulo.
Meu avô foi, durante muitos anos, feirante, e meu tio Edi trabalhava com ele. Trabalhavam com roupas, entre elas, também estavam os uniformes dos clubes. Lembro-me certa vez que o meu tio Edi foi presentear a mim e ao Artur com uniformes; entretanto, escondeu-os atrás do corpo. Perguntou se queríamos, independente de ver, ao que respondemos: “queremos, se for do Corinthians!”. Meu tio não deixava nem mesmo meu pai ver os uniformes - que eram, afinal, do Corinthians mesmo. Como dito acima, meu tio Edi me paparicava bastante (à época, eu era o mais novo dos seus sobrinhos homens), vivia me elogiando, quando jogávamos bola (logo eu, que nunca fui grande coisa com a bola nos pés). Uma época, eu estava com certa habilidade no gol, e cheguei a ganhar um par de luvas dele. Sempre engraçado e brincalhão, eu tinha (e tenho hoje, embora já não igual ao de uma criança) um grande amor pelo por ele.
E certa noite ele tentou se aproveitar disto: disse, a mim e a meu irmão mais velho, que, se trocássemos o Corinthians pelo São Paulo, nos daria um uniforme completo do tricolor. Meu irmão não topou (nunca perguntei a ele nada sobre isto); eu, depois de muita insistência, aceitei. Afinal, seria muito legal torcer para o mesmo time que o tio Edi, que eu tanto adorava.
Na hora de dormir, deitei-me e fiquei na cama acordado; o tempo passava e percebi que algo me incomodava. Além de teimar em não pegar no sono, minha mente não conseguia esquecer a promessa feita ao tio, e o seu significado: torcer pelo São Paulo significaria... Não torcer pelo Corinthians. Ainda que eu, do alto de meus seis anos de idade, não acompanhasse o futebol de perto, já tinha no peito um grande amor pelo meu time. A única saída que eu tive diante daquela situação foi chorar, pois eu percebi que não queria ser são-paulino - o que eu queria era apenas agradar meu tio. Mas não havia espaço para o São Paulo no meu coração.
Pois ele já era corintiano, como sempre será. E só me restou pedir desculpas ao meu tio pela promessa que não poderia cumprir.

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